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MESTRE ZEZITO

Quando Carlos Gomide e Schirley França chegaram a Juazeiro do Norte no início da década de oitenta, estavam em busca de conhecer a cultura local, os brincantes e os grupos de tradição cultural. O Cariri cearense já era reconhecido como um grande "caldeirão cultural". O casal deu uma entrevista em um programa de rádio, apresentando-se como artistas em busca de encontrar os artistas dos grupos locais.

 

José André dos Santos estava ouvindo o programa em sua casa no Pirajá e, no mesmo momento, pegou sua bicicleta e foi à sede do programa de rádio. Chegando lá, perguntou pelo casal e disseram que já tinham saído. Era época de romaria na cidade, e as ruas do centro de Juazeiro do Norte estavam fervilhando de romeiros do Padre Cícero. José André perguntou para que lado eles foram e rumou com sua bicicleta com duas pistas procurando um homem magro de cabelos longos e uma mulher de cabelos enroladinhos.

 

Na esquina de uma rua, avistou um casal bem diferente dos romeiros e não teve dúvidas, se apresentou perguntando: "Vocês que estavam na rádio procurando os artistas da cidade? Meu nome é José André, mas me chamam de Zezito".

 

Zezito era artista circense, viajou por décadas pelo nordeste trabalhando em diversos circos. Até ter o seu próprio circo, um circo simples do tipo "tomara que não chova" (quando o circo não tem lona de cobertura, apenas pano de roda, que é o toldo que circula o picadeiro). No circo, já tinha feito de tudo: ser capataz, trapezista, mágico, até o fabuloso número "O Homem mais forte do Mundo", arrastando caminhonetes com correntes amarradas em seu corpo, e deixando um carro passar por cima de seu peito, até se tornar palhaço, o famoso palhaço Pilombeta.

 

Devido às dificuldades em manter o circo na estrada, Zezito estava parado há alguns anos em Juazeiro do Norte, vivendo de suas engenhosidades, consertando panelas, arrumando coisas quebradas, sendo um trabalhador incansável, buscando o necessário para o sustento de sua numerosa família.

 

Zezito encontrou em Carlos e Schirley a valorização pela arte circense, que era o verdadeiro encanto de sua vida. Encontrou incentivo para voltar às apresentações. Desse encontro, surgiu uma amizade muito profunda, e mestre Zezito trouxe o universo do circo para a Carroça de Mamulengos.

 

Em 1984, Carlos e Schirley deram início à construção da Barraca da União em Juazeiro do Norte, uma verdadeira escola ambulante de circo, música, cultura popular e teatro. Percorrendo os bairros da cidade, a barraca realizava espetáculos e oficinas, envolvendo diversos mestres e mestras da cultura local. O maior destaque, sem dúvida, foi o Mestre Zezito, que orientou a construção da própria barraca, desde costurar e encerar a lona até fazer as estacas e conduzir a montagem. Ao redor da barraca, ele montou vários aparelhos circenses para aprendizado, como o passeio aéreo, trapézio, rola rola, equilibrismo no arame e perna de pau, contribuindo para transformar a Barraca da União na primeira escola de circo do estado do Ceará.

 

Para sustentar-se através da arte, Carlos e Schirley viajaram de Juazeiro do Norte, e Mestre Zezito começou a acompanhá-los nas itinerâncias, aprendendo a levar sua arte para diversos espaços, como escolas, praças, ruas e teatros. Assim, criou o grupo Circo, Boneco e Riso e, ao passar por Brasília junto da Carroça de Mamulengos em 1992, decidiu fixar-se na capital federal, onde desenvolveu uma história de vida notável. Formou centenas de professores e tornou-se um marco artístico na cidade, especialmente nas áreas do circo e da construção de brinquedos populares.

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Memórias

 

Entre as memórias mais marcantes está a habilidade cênica de Mestre Zezito como o genial palhaço Pilombeta. Ao receber visitantes em sua casa, muitas vezes aparecia segurando uma garrafa de pinga vazia, fingindo estar bêbado e importunando as pessoas até quando quisesse. Ao sair do personagem, surpreendia a todos com sua habilidade cênica.

 

Zezito era uma enciclopédia ambulante de esquetes de palhaço, piadas e histórias, além de um construtor de múltiplas habilidades. Produzia aparelhos de mágica, adereços cênicos para cenas clássicas de circo e colecionava brinquedos populares, chegando a inventar vários. Em sua casa, quase nada era jogado fora, pois ele sempre imaginava alguma utilidade para tudo.

 

Foi com Mestre Zezito que a Carroça de Mamulengos aprendeu a entoar as canções de palhaço Perna de Pau, tradição que continua sendo transmitida às próximas gerações. Sempre anunciando "O raio do sol suspende a lua, olha o palhaço no meio da rua", Zezito deixou um legado imensurável na cultura popular do Ceará e do Brasil.

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