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CARLOS GOMIDE

Fundador e Pai da Carroça de Mamulengos

Carlos Gomide, também conhecido como Carlos Babau, nasceu em Rio Verde-GO. Criou a companhia Carroça de Mamulengos em 1977 na cidade de Brasília. É cameloturgo, bonequeiro, poeta, cantor, compositor, artesão e um quixotesco sonhador... Pai de Maria, Antônio, Francisco, João, Pedro e Matheus, Isabel e Luzia, é o mentor da linguagem estética e criações da companhia. Inventor de tradições já espalhadas pelo Brasil. É quem orienta e inspira os caminhos dessa grande família Carroça de Mamulengos. Há mais de 20 anos, Carlos mantém um viveiro onde cultiva mudas de frutas para distribuição gratuita para romeiros do padre Cícero todo dia 20 de cada mês, seguindo o conselho do mesmo que diz: “todo romeiro deve plantar todo dia uma árvore até o nordeste se tornar uma mata só”.

Prêmios recebidos:

Trajetórias Artísticas 2021 SESCULT-CE

A comenda Patativa do Assaré 2023 SESCULT-CE

Prêmio Funarte Mestres e Mestras das Artes 2023

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Começou a trabalhar com teatro em 1975 em Brasília, em um grupo chamado Carroça, dirigido por Humberto Pedrancini. Nessa época, passou por Brasília um espetáculo do grupo Mamulengo Só Riso - PE, e então Carlos teve contato com o teatro de mamulengo e com o livro “Fisionomia e espírito do mamulengo”, de Hermilo Borba Filho. Intuiu que havia uma linguagem artística que não estava sendo ensinada nas escolas de teatro e foi ao encontro dessa linguagem. Encantou-se pelo teatro de bonecos, pela narrativa de histórias e decidiu buscar a cultura popular brasileira como fonte inspiradora.

Após a dissolução do grupo Carroça, Carlos herdou o mesmo nome “Carroça”. Criou um espetáculo de teatro de bonecos feitos com sucata e tomou uma decisão que norteou sua vida: viver de teatro. Para isso, pediu demissão do emprego de auxiliar de escritório e foi peregrinar com um saco de dormir e sua mala de bonecos. Por três meses, Carlos morou nas ruas de Brasília, durante o dia auxiliava na construção do teatro Garagem, e nos momentos fortuitos construía seus bonecos e idealizava seu caminho.

Em 1977, soube da realização de um festival de cultura popular no Rio de Janeiro, na inauguração do SESC Tijuca, e viajou para participar. Esse festival mudou a vida de Carlos, pois foi onde conheceu o brincante bonequeiro Antônio Alves Pequeno, o mestre Antônio do Babau, provavelmente o maior bonequeiro popular do Brasil. Desse encontro, Carlos ganhou dois bonecos: o Benedito e o Doutor Franga de Galinha, e avisou ao mestre Antônio que um dia iria morar com ele, e teve como resposta a dúvida “Você nunca vai lá pelo meu mundo”.

Carlos viajou para o Nordeste em busca de conhecer brincantes do teatro popular e, em 1979, cumprindo sua palavra, foi ao encontro do mestre Antônio do Babau na cidade de Mari-PA, onde residiu por mais de um ano. Vivenciando semanalmente as brincadeiras por sítios e a vida do Seu Antônio no roçado e na lida do dia a dia. Das mãos de seu mestre, recebeu bonecos com os quais formou seu terno (Terno é o conjunto de bonecos que formam a mala de um bonequeiro), pediu permissão para andar pelo mundo brincando com os bonecos e assim pegou a estrada, e assim segue até hoje. A partir de então, o nome do grupo passou a se denominar Carroça de Mamulengos.

Após conviver e aprender com o Mestre Antônio do Babau, Carlos sintetizou a linguagem do babau em uma dramaturgia icônica, que por sua perfeita estruturação, tornou-se modelo, compondo a gênese do atual teatro de bonecos popular realizado no meio artístico brasileiro nas últimas gerações. Sintetizou um enredo de força arquetípica e fez o elo do bonequeiro rural com o urbano.

Carlos lapidou uma brincadeira - tradicionalmente realizada durante horas à luz de lamparinas - para o tempo de não mais que uma hora, além de apresentar ao Brasil um novo Benedito: vaqueiro corajoso com consciência social e, principalmente, um Benedito amoroso e pai de família, para além do tradicional anti-herói briguento e inverossímil, que resolvia tudo na “base da peia”. Carlos o refinou em um Benedito inteligente e trabalhador, que apresenta a esposa grávida que dá à luz ao Cassimiro Coco (boneco bebê que faz xixi no público, criação de Carlos e que hoje está nas mãos de praticamente todos os bonequeiros populares do Brasil!). O enredo então passa a se centrar na história da família de Benedito.

Durante uma apresentação, ao ouvir uma criança gritar: “tira o boneco da boca dela!”, em referência à cobra que engole a personagem Catarina, Carlos Babau resolveu mudar o foco de conflito da história, remodelando a tradição. E assim, Benedito (feito Teseu que vence o Minotauro, ou Golias que vence o gigante, ou Jonas que saiu de dentro da baleia) retira os bonecos vivos de dentro da cobra, construindo uma cena também icônica. Para festejar, Carlos inventou de fazer um boneco tocar sanfona, ao som de uma gaita que tocada por ele atrás da tolda, e, por fim, trouxe o Boi do Reisado para a brincadeira de bonecos, na engraçadíssima cena do boi desobediente. Todas essas cenas já são consideradas de domínio público, sendo replicadas por bonequeiros de todo o Brasil.

 

Carlos é um artista inventor de tradição, mestre de mestres. Com tantos anos de trajetória artística, é surpreendente ver a quantidade de suas criações incorporadas à cultura popular. É incontável o número de artistas que se utilizam de suas criações. Conforme a tese de doutorado defendida recentemente por Daniela Rosante Gomes, na Universidade Federal de Tocantins, pelo menos trinta grupos espalhados pelo Brasil encenam o teatro de bonecos de Carlos Gomides.

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